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terça-feira, 23 de maio de 2017

Mais do mesmo...

Parafraseando Jout Jout no vídeo " Não tira o batom vermelho", digo que esse texto pode valer para amizades, familiares, colegas de trabalho e faculdade, relações amorosas entre pessoas do mesmo gênero, enfim, relacionamentos interpessoais. No entanto, por questões foco, a pauta aqui serão as minhas experiências  em relacionamentos com homens, ok?

Te horas que eu tento me manter firme e forte, focada em mim mesma, nas minhas rotinas e meus projetos, no meu processo de expansão de consciência, em ajudar ao próximo, enfim, em aprender a viver a vida de uma forma mais justa e coerente com o que eu tenho entendido que são valores importantes para mim. "Cuidando do meu jardim" como diz a sabedoria popular.
No entanto, não vou mentir, não sou de ferro. As mazelas da minha carência afetiva - e influência do meu sol em escorpião - vira e mexe batem à porta e começo a sentir falta de carinho, de dar um beijo gostoso, de ter uma transa fluída. Ao mesmo tempo, a dedicação que tenho investido em mim mesma e na minha saúde mental já me traz alguns frutos da autorreflexão.
Dia desses parei para prestar atenção numa relação casual que mantinha com um brother aí há algum tempo atrás e um aspecto dela me chamou atenção: toda vez que ele me encontrava, era nítido que ele sentia tesão por mim. Mas eu não. Diante disso, quis cortar a relação mas nunca soube direito qual explicação dar, pois, afinal, nunca tivemos nada sério e sempre foi tudo muito tranquilo entre nós. Nisso, recorri ao clássico método da ausência voluntária e dei uma sumida.
Mas ainda não estava satisfeita. Senti que essa atitude era bastante imatura e não condizia com quem eu queria ser ou estou tentando caminhar para ser. Resolvi, então, ser mais observadora dessa relação e um dia, quando nos encontramos novamente para que ele me entregasse alguma coisa que eu supostamente tinha esquecido, tive uma luz do que havia ocorrido.
Entendi que sempre houve algo estranho, mas nunca soube direito explicar o que era. Percebi que nossas conversas eram desbalanceadas. Notei que eu o instigava muito mais a falar de si do que ele a mim. Curiosa que sempre fui, pareço uma Marília Gabriela diante do outro. Pergunto, questiono, quero saber. Mas, ao mesmo tempo, entendi também que em minha vida poucas pessoas passaram por mim com a mesma postura.
A partir desse entendimento pontual, coloquei lente de aumento em outras relações e percebi uma espécie de padrão nos meus relacionamentos. Na maioria das vezes, saí desgastada e descrente do outro e me colocando num papel de vítima, culpabilizando o outro pela minha dor - postura essa que também trabalho para amenizar nessa minha vida atual vida como mulher. Essa percepção me fez entender uma faceta minha, que é a da vontade de intimidade.
Essa curiosidade pelo outro se transforma em desgaste de energia quando você não recebe essa mesma curiosidade de volta. Não digo que seja obrigação do outro de tê-la, mas perceber isso em mim jogou luz sobre diversas sombras que habitavam minhas relações. Entendi que não adianta de nada o outro estar interessado em mim, mas sequer perguntar como estou me sentindo, como foi o meu dia ou qual minha cor preferida. Ou perguntar só por perguntar, apenas para preencher um protocolo ritualístico para alcançar um objetivo maior. O meu tesão não habita a superficialidade. Não mais, não perto dos 30.
Compartilhei essa reflexão com um grupo de pessoas, e vi que muitas dessas pessoas se identificaram. Algumas, inclusive, enriqueceram essa reflexão dizendo que investir energia em quem não investe energia de volta gera um sentimento de rejeição muito ruim ou que não aguentam o Tinder por também desgostarem dessa dinâmica onde os homens falam de si e não perguntam quase nada sobre a mulher.
"Você gosta de mim por eu ser eu ou por eu ser uma mulher?" compartilhou outra, frase que encontrou anotada num caderno antigo.
Ampliando mais ainda o campo de visão dessa suposta lente de aumento, lembrei de um livro que li há pouco tempo, chamado "Porque até a morte terei fome" da escritora Patrícia Colmenero, cuja narrativa conta a história de uma mulher que terminou um relacionamento e sua trajetória emocional de superação desse episódio. 
Entre várias reflexões que esse livro me proporcionou, uma das mais marcantes foi a descrição do ex. Túlio era advogado e burocrata, ferozmente dedicado ao seu trabalho e pouco perceptivo da namorada, Patrícia, que trabalhava junto com ele num escritório.
Ela bem que tentou vestir a fantasia de burocrata, mas como era muito pequena, logo sentiu na pele os incômodos da roupa apertada. Seu sonho era ser escritora, mas se via presa na Matrix. A ruptura do relacionamento serviu para que pudesse refletir sobre as várias vendas que estavam atadas em seus olhos. Um dos trechos que mais me marcou nessa história foi o seguinte:

"Estou em casa escrevendo. Escrita-mecanismo-de-protesto e escrita-válvula-de-escape. Bifurco minhas emoções nesses dois tubos de palavras.
Toca o telefone. É ele.
- Oi, querido...
- Amor, terminei mais cedo aqui. Vamos ao cinema?
- Ixi, não posso! Estou com muito trabalho aqui...
- Como assim, trabalho? Que trabalho?
- Meu livro...
- Ah...
O silêncio fala mais que nós dois.
- Você não acha que nós poderíamos aproveitar essa noite de folga - rara - indo ao cinema?
Tenho vontade de lhe dizer que todas as minhas noites são de trabalho. São noites em que eu só faço o que ele quer. Se hoje fosse noite de folga eu escreveria. Mas não digo nada disso.
- Eu não sei...
- Vamos! Nós precisamos relaxar. Nós merecemos.
Queria que o entusiasmo dele fosse readaptado. Queria que a minha escrita pudesse provocar tais sentimentos nele para eu não ter de me sentir tão culpada por não aproveitar esse - raro - momento de animação de Túlio. (...) Mas não consigo dizer nada disso. "

Encontrei aqui a base estruturante da minha inquietação inicial que é a da mulher na posição de submissa e de servente maternal ao homem, uma das posições mais clássicas estipuladas pelo patriarcado.Essa pedra no sapato não é só minha, mas de muitas de nós. É ferida aberta do nosso feminino ancestral.
Fico feliz por ter tido esse entendimento, pois agora sinto que ganhei um pouco mais de liberdade na Matrix. Gostar de intimidade exige que eu busque por pessoas que também gostem dela e de maneira profunda, porque é assim que sou - ou estou.
Ainda tenho aprendido a lidar com as minhas carências, pois não é algo simples. Me disseram que talvez eu tenha internalizada a crença de que preciso ter alguém para me sentir plena. É bem provável que isso esteja em mim, afinal, são muitas coisas que habitam o inconsciente feminino coletivo e individual. Tenho trabalhado na expansão da minha consciência para ter mais liberdade e paz em ser uma mulher nesse mundo doido.
Cuidemo-nos!

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